Kino no Tabi: The Beautiful World #04 – Impressões Semanais

Continuando sua trajetória por um mundo cheio de diferentes experiências, nesse quarto episódio, Kino no Tabi abandona parte do foco de sua protagonista para dar lugar a um personagem que apareceu recentemente, mostrando suas perspectiva e visões sobre um país estruturado em um navio.

Existem alguns pontos que acabaram me incomodando um pouco, com o súbito aparecimento da Kino na parte final, e as explicações sobre o clã da Torre, que foram rápidas demais para o meu gosto, e sem grande profundidade. Porém, no geral, o episódio ainda conseguiu me agradar, e transmitir algumas boas ideias.

As sutilezas do seu próprio mundo.

Logo de cara, o que mais me chamou atenção, como citado acima, foi a ausência da Kino na história em um primeiro momento. O Shizu tinha aparecido no segundo episódio, mas não se mostrou um “grande” personagem. Ele certamente não é ruim, porém, foi muito pouco tempo em cena para ter uma impressão positiva, ou negativa, sobre ele, o que acabou mudando um pouco com essa abordagem.

Ele teve todo o envolvimento com o Coliseu, além do fato de estar tentando matar o próprio pai em uma condição que o afastaria do seu “lar”. Sendo assim, ninguém melhor para contrapor um dos pontos que o anime tenta abordar.

Durante todo o episódio, o Shizu vai observando certos aspectos daquele país, e das condições em que o navio se encontra. São lugares alagados, estruturas prejudicadas e pontos que não podem mais ser acessados, fora os constantes barulhos que o próprio lugar faz a medida em que se movimenta.

As condições do navio já estavam no limite e, cedo ou tarde, o lugar iria afundar, mas a população agia como se nada estivesse acontecendo. Os problemas apareciam na frente deles, mas os habitantes apenas desviavam o olhar e deixava isso de lado como se fosse natural.

Apenas outro dia comum…

A cena do primeiro barulho, onde todos continuam conversando e sorrindo normalmente, como se aquele evento não estivesse acontecendo, acabou me remetendo um comportamento bem comum por aí. É normal, às vezes, você deixar de lado os problemas e fingir que não existem.

Seja de forma geral, como questões ambientais, políticas, sociais, ou quaisquer outra, existem sempre aqueles inconvenientes que você sabe que estão ali, tem consciência de que não deveria ignorar, mas vai fazer isso porque “ainda não chegou a hora de pensar sobre aquilo”.

O final do episódio, por sinal, refletiu parte desse sentimento para mim. Os habitantes do lugar, mesmo alcançado a suas “liberdades”, ainda decidiram voltar para o navio por conta do costume criado ali. O garotinho, implorando para voltar, expressa essa ideia de que “não há nada de errado em ficar na mesma”.

Ele, provavelmente, nasceu ali, então não tinha um padrão para comparar. A sensação do balanço do navio era o que ele estava acostumado, e a terra não podia fazer o mesmo. Os avisos do Shizu entram para tentar ampliar as possibilidades do povo, mas é onde acaba batendo contra um novo “problema”. A questão cultural.

As pessoas do navio estavam tão firmes na suas crenças que, literalmente, estavam dispostas a afundar com ela. Isso, ao menos para mim, crítica grande parte do que existe por aí.

Religião, orientação política, morais, sistema econômico, ou seja lá o que mais rege o que definimos como “certo”. Tudo isso surge como formas de moldar nossa conduta, e o jeito como vemos o mundo.

Mesmo sabendo que existem pontos que podem ser visto como problemas, a grande maioria ainda defende aquilo, enquanto apenas aponta os defeitos do outro lado.

Tudo isso que apontei deixaria o episódio bem interessante, se não fosse um pequeno problema. Parece que novamente o rush acabou surgindo, e deixando as coisas meio estranhas, principalmente na parte final.

A Kino não estava na história, e essa sensação de que ela não ia aparecer, só vai aumentando durante o tempo em que o Shizu conhecia o lugar. O episódio parecia ser dedicado para ele, o que não seria um problema, mas então, em uma cena tensa, que deveria ser o início das especulações sobre o que estava acontecendo ali. A Kino decide aparecer ao melhor estilo “eu estivesse sempre aqui”, com uma tentativa de plot twist que não funcionou em mim.

Eu fiquei sem entender muitas coisas naquela cena, e as resposta para essas perguntas também não vieram. Colocaram uma sequencia de ação, onde leva ao final dos eventos, mas aquilo não me impactou em nada, porque eu não entendi em detalhes aquela ação.

Eles queriam libertar o povo do navio, e voltar para terra, já que o país estava quebrando e tudo mais, porém, isso só é explicado no final, quando o Hermes decidi contar algo no modo aleatório, deixando aquela sensação nítida de “precisamos explicar isso aqui, senão vai ficar ainda pior”.

Esse tipo de escolha acaba prejudicando parte da experiência. Se a Kino era importante para explicar os eventos paralelos ao Shizu, como a inteligência artificial, e o passado da garotinha, por que não explorar isso de forma mais calma, deixando espaço para os dois?

Até o momento, as tentativas de comprimir um arco, ou conto inteiro em um único episódio, tem se mostrado o grande ponto fraco dessa nova adaptação.

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E você, que nota daria ao episódio?

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Extra

Um paralelo meio aleatório, mas, em certas partes, esse episódio me lembro uma frase de Nietzsche, onde ele diz:

“Quando em uma inovação, encontramos algo do antigo, nos sentimos sossegados”

A citação pode não se encaixar em todos os contextos, mas acabou me remetendo essa sensação, já que, mesmo procurando melhorias, nem todos querem deixar de lado o que têm agora.

Eu gostei dessa cena…

Ela me transmitiu parte do sentido do título. O navio tinha inúmeros problemas, com a população em condições precárias e longe de ser aquilo que daria para chamar de “esperançoso”, mas ainda consegue entregar momentos bonitos, assim como o mundo.

Parece que alguém não aprendeu que o inimigo pode ter duas armas…

Marcelo Almeida

Fascinado nessa coisa peculiar conhecida como cultura japonesa, o que por consequência acabou me fazendo criar um vicio em escrever. Adoro anime, mangás e ler/jogar quase tudo.