Dies Irae #03 – Impressões Semanais

Esse episódio de Dies Irae trás algumas respostas e revelações, mas pode ficar bem difícil captar algumas coisas se não prestar atenção o suficiente.

E atenção, caso esteja lendo isto sem ter visto o episódio, recomendo assistir primeiro, pois terão spoilers fortes!

Chegando ao que Mercurius chamou de “final verdadeiro do prólogo”, o arco dos assassinatos chegou ao fim com um grande (Nem tanto) twist. No original o twist é parcialmente previsível, mas o anime fez força para ser ainda mais previsível. Embora muitos não tenham percebido que no episódio anterior, foi a Kasumi que acordou durante a madrugada e se levantou, como dá pra notar pela posição da cama ou a cor dos olhos.

Mas esse episódio em si esqueceu a diferença entre foreshadow e spoiler, basicamente revelando o twist antes dele acontecer, o que pode ter matado o impacto da cena para alguns.

Ao menos o drama psicológico do Ren o anime consegue explorar bem.

O que realmente deveria ter dado respostas mais palpáveis, no entanto, era a primeira cena do episódio no terraço. Na obra original toda essa cena e o que vinha antes era bem mais extensa, o que foi um erro terem cortado já que daria bastante contexto para as pessoas. O motivo de eu estar fazendo essa comparação, porém, é porque o criador da VN revelou que o BD terá uma versão estendida dessa cena, e que ela foi cortada do anime por não ter sobrado tempo de episódio o suficiente para colocá-la. Me pergunto se terão outras cenas adicionais na versão BD?

Embora não tenham feito um bom trabalho na hora de criar o foreshadowing sobre quem era o assassino, o anime mostrou bem a relação do Ren e da Kasumi, e como a conexão deles é forte. Eles só podiam ter se dado ao trabalho de animar a cena do encontro dos dois, né? Ficar mostrando imagens paradas enquanto diálogos acontecem não ficou muito legal.

Enquanto isso, o Ren e a Marie tiveram sua primeira interação oficial na série. Ainda bem breve e misteriosa, mas pouco significativa. Digo pouco porque apesar de durar só alguns segundos, havia um motivo específico para colocarem a cena ali. No caso, a cicatriz do pescoço da Marie agora também é uma cicatriz no pescoço do Ren. A essa altura acredito que já seja meio óbvio a ligação entre a Marie, sua cicatriz, a guilhotina do museu, os sonhos com pessoas decapitadas e o poder do Ren. Caso contrário, pensem nisso.

A conversa do Ren com a Kei foi de suma importância para expor alguns detalhes que certamente passaram despercebidos. Como o estado mental do Ren ao que estava acontecendo. Ele não escolheu ficar mais próximo da Kasumi do nada, nem correr atrás dela assim que acordou aleatoriamente. Inconscientemente ele já sabia o que estava acontecendo, mas tentando preservar o seu “dia a dia” comum, ele tentou mentir para si mesmo. Foi somente ao ver com os próprios olhos que a Kasumi era a verdadeira assassina, que ele caiu na real.

Simbolismo e metalinguagem também fazem seus papéis na cena. O símbolo que aparece nos olhos do Ren, o cajado Caduceu, carrega muitas representações, uma delas sendo o que a Kei já havia dito sobre as duas cabeças da serpente. O cajado também é dito acordar quem está dormindo, e colocar para dormir quem está acordado, referente a situação onde toda vez que o Ren dormia, a Kasumi acordava para matar.

O cajado também carrega o significado de dualidade, ou yin yang, enquanto a Kasumi representa a luz, o Ren representa a escuridão. Além de também poder significar o início e ascensão da energia. Toda a profundida é possível ao simples e inteligente construir de uma relação entre dois personagens ao redor de um único símbolo.

A metalinguagem também serve de auxílio ao episódio. “O papel do personagem secundário é preparar o palco para o protagonista” é a frase perfeita para definir o episódio. A revelação de que no fim das contas, a Kasumi estava sendo controlada pelo Ren para coletar as almas das pessoas a fim de deixá-lo mais e mais forte, a ponto de conseguir enfrentar os vilões de frente. A Kasumi matou as pessoas, mas ela foi usada como um instrumento pelo Ren sem ele saber, logo, o culpado dos casos de assassinato acaba sendo o próprio Ren no fim das contas. Diante desse fato, o Ren não teve escolha a não ser assumir seu papel nessa história e deixar a Kasumi viver o cotidiano que ele tanto quer proteger, já que ela não irá lembrar de nada como sempre acontece.

Toda a cena do Mercurius foi bem enigmática e provavelmente não fará muito sentido pra quem não conhece o original, embora isso já seja uma característica do personagem de qualquer forma. Mas achei legal a jogada da direção colocando o personagem sendo banhado em mercúrio, a própria representação dele.

Apesar disso, os elogios a direção só vão até aí mesmo. Além de estar corrido, o episódio teve muitos cortes secos e mal feitos. O anime todo tem, mas justamente por ser corrido ele teve uma quantidade maior de cortes assim. Esse talvez tenha sido um dos motivos também de muita gente não ter notado muita coisa nesse episódio, apesar de que se realmente prestar atenção, é difícil não perceber. Por fim, falar mais ainda da animação seria muito repetitivo, mas da pra notar claramente que estão economizando o máximo possível.

Foi um episódio que embora carregado de muito conteúdo, simbolismo e revelações, além de mais perguntas, acabou falhando em alguns outros aspectos como a construção para a revelação, ter apresentado mal algumas coisas importantes e mantendo uma direção fraca.

Para um “final verdadeiro do prólogo”, acabou faltando impacto. O Grand Guignol de hoje termina até com alguns aspectos elogiáveis, mas com o sentimento de “a ideia foi muito boa, mas a execução deixou a desejar”.

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Extras

Doces ou travessuras?

Uma boa representação visual. De vez em quando acertam.

Um close bem colocado, eu diria. Nada precisou ser dito para passar a mensagem.

Não acreditem em profecias, jovens.

Testarossa

Escritor amador, fã de animes, mangás, light novels, visual novels e outras coisas da cultura japonesa. "Nunca tenha certeza de nada, por que a sabedoria começa com a dúvida."