As Crônicas de Arian – Capítulo 39 – A Escolha
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Capítulo 39 – A Escolha
Arian foi parar dentro de uma construção cheia de jaulas de animais. O local era um galpão enorme. Ele usou o impulso gerado pelo chute de Atlas e deu uma cambalhota para trás, recuperando a postura.
“Ele era o mais certinho do nosso grupo, por que está fazendo isso?”
“Não vai ter coragem de matá-lo. Vamos trocar.”
Seu olhar mudou de alguém surpreendido, para o de alguém analisando a situação.
Se concentrou em sua audição e tentou prever a posição de Atlas, que depois de acertá-lo, correu em direção a Lara, mas estava sendo atrasado por alguma coisa. Pela claridade surgindo do buraco feito pelo corpo de Arian, ela parecia estar lançando magia de gelo da espada contra o adversário.
Arian pegou suas duas espadas, que tinham caído perto dele, e depois correu e se jogou na parede, com os braços protegendo o rosto.
A parede de madeira explodiu, e Arian acertou Atlas em cheio, antes que chegasse em Lara. Com o impulso, ambos foram jogados contra a parede do outro lado do beco, quebraram ela com seus corpos, e rolaram no chão de terra dentro do local. Estavam em um armazém de materiais de construção.
— É, parece que não vai ser tão fácil… — Atlas pegou sua espada no chão e entrou em uma postura defensiva.
— Está me seguindo com essa fantasia desde quando? — perguntou o guardião, encarando Atlas, que estava vestido com uma capa negra meio rasgada, bem como descreviam o cavaleiro da morte.
— Só estava cumprindo as ordens do meu chefe, e aproveitando para fazer algumas coisas que queria no tempo livre. Devia me agradecer, se não estivesse te seguindo, não teria conseguido salvar nem mesmo a garota na luta contra Malak.
Arian se levantou e foi para cima dele com sua espada normal e a de prata, mas Atlas desviou do golpe, e contra-atacou.
“Não lutávamos bem melhor que ele?”
“Sim… Parece que ele andou tendo umas aulas.”
Ambos começaram a desviar e bloquear dos golpes um do outro, enquanto andavam dentro do armazém escuro.
— Surpreso? — disse Atlas, com um sorriso de confiança no rosto. — Agora sei lutar tão bem, ou até melhor que você.
Os dois continuaram trocando golpes, com Atlas se mostrando em vantagem, até que a espada de prata de Arian quebrou. Por sorte, ainda tinha uma das espadas de prata reserva que comprou para usar em Ark em sua cintura. Tirou a espada e voltou a avançar contra o adversário.
— É melhor usar sua espada especial se quiser ter alguma chance. Não tenho uma arma espiritual, mas essa espada é de qualidade o bastante para arrebentar uma arma comum em poucos golpes.
“Não faço a mínima ideia do que ele fez para melhorar tão rápido, mas temos que acabar logo com isso. Lara não vai aguentar muito tempo contra uma bruxa, e esse imbecil parece estar nos enrolando de propósito…”
“Faça o que precisar, mas tente não matá-lo, deve ter uma explicação para ele estar fazendo isso. ”
Arian avançou de novo, mas Atlas parecia estar prevendo seus ataques. Desesperado, partiu para improvisos, acertando um chute na barriga do inimigo. O golpe foi tão forte, que o corpo do homem arrebentou a parede do armazém, uma segunda parede depois dela, e foi parar dentro de uma casa. As construções daquela área pareciam ser feitas de uma madeira bem fina e frágil.
Arian correu até Atlas, que desviou de sua espada, rolando para o lado. Se levantou e voltou tentando acertá-lo logo depois, mas Arian bloqueou. Algumas pessoas gritavam, enquanto eles trocavam golpes. Foi quando reparou que estavam na sala de uma casa, onde uma família parecia estar jantando.
— Peço desculpas por isso — disse Atlas, se dirigindo a família, enquanto lutava com Arian.
“Não tenho tempo para isso… Se ele ainda é o mesmo, então…”
Arian estava observando um pilar enorme no meio da sala. Devia ser o pilar de sustentação central da casa.
“Não faça isso!”
“ Fazemos isso, ou Lara vai ser pega, se já não foi…”
Arian trocou de sua espada de prata para a espada espiritual e voltou à ofensiva, atacando e desviando dos movimentos de Atlas, enquanto os dois destruíam a mobília e paredes da casa no processo. O pilar central já havia levado uma porção de golpes dos dois, e parecia prestes a quebrar.
O guardião tentou acertar outro chute em Atlas, mas ele previu isso e desviou, acertando um soco no rosto de Arian, logo depois. Ele voou para trás, batendo com as costas no pilar de madeira da casa, que estalou.
A maior parte das paredes estava quebrada, só uma coisa ainda a mantinha de pé. Arian se levantou e sorriu para o adversário. Depois girou sua espada espiritual, cortando o pilar de madeira com ela. Uma espada normal teria quebrado ao tentar cortar algo tão grosso, mas a dele apenas trincou de leve.
— Ficou maluco? — disse Atlas, que rapidamente olhou para a família atrás dele. Um pai, uma mãe, e duas crianças, se espremendo no canto da sala.
— É melhor ajudá-los. Você sobrevive a isso, eles não — Ao dizer isso, Arian chutou o pilar atrás dele e correu para um buraco na parede da sala. A casa começou a desmoronar, enquanto ele corria de volta para onde Lara estava.
Como previu, Atlas não seguiu ele. Ao invés disso correu para tentar proteger a família, colocando seu corpo em cima do deles. A casa desmoronou completamente logo depois.
“Você é louco! Vamos trocar de volta!”
O olhar de Arian mudou e ele virou a cabeça para trás, preocupado.
“Não volte! Eu fiz o necessário. Conhece aquele idiota de coração mole, era óbvio o que iria fazer, e a queda da casa não vai matá-lo… Ao menos ganhamos tempo. Fique bravo comigo depois, e vá logo ajudar a Lara!”
Arian correu de volta para Lara, mas ela não estava mais no beco. Ele pulou para cima do telhado do armazém de 2 andares, que Atlas o arremessou antes, e tentou visualizá-la. Não podia estar longe. Foi quando um grito ensurdecedor chamou sua atenção. Era a bruxa!
Indo para o telhado da casa de três andares à frente, finalmente achou Lara, ainda brigando com a mulher de preto. Estavam na ponta da enorme praça turística próxima dali. Lara lutava com sua espada, contra dois homens, enquanto bloqueava a magia da bruxa com a outra mão. Toda vez que a mulher lançava energia negra em sua direção, a mão de Lara brilhava, e a energia negra se dissipava antes de acertá-la. Os homens não pareciam ter a menor chance contra sua espada espiritual, que quebrava as armas dos adversários em poucos golpes trocados.
“Ela ainda não deve estar totalmente recuperada da luta contra os goblins, e mesmo assim consegue lutar com uma bruxa e vários mercenários ao mesmo tempo? Ainda que tenha aquela espada, é difícil acreditar que é humana”.
Bruxas não eram temidas a toa. Qualquer uma delas era naturalmente algo entre um classe S e SS. O nível de destruição que podiam causar era absurdo. Arian já tinha visto um grupo de várias sacerdotisas levar uma surra para uma única bruxa, então Lara estar conseguindo segurar as maldições e energia bruta que aquela estava lançando, sozinha, era algo impensável.
A praça estava cheia, mas assim que ouviram a risada da mulher de preto, todos começaram a correr gritando “bruxa!”. Um dos homens lutando contra Lara tinha acabado de cair com a garganta cortada. A bruxa novamente lançou uma energia negra em cima de Lara. Essa parecia mais forte que as anteriores. Quando Lara bloqueou, foi lançada para trás, assim como o homem lutando contra ela. Mas o mercenário se levantou rapidamente e avançou contra a sacerdotisa, que ainda estava caída.
Arian correu pelos telhados e saltou na frente de Lara, acertando um soco que fez o mercenário voar vários metros para trás, e cair inconsciente. Quando o viu, a bruxa recuou, dando uma risada bizarra.
Bastante aberto e cheio de estátuas de dois a quatro metros, o local que eles estavam era cercado por várias construções bem acabadas, feitas de concreto e madeira, com um a dois andares. O chão ali era de concreto liso, diferente do chão rústico de pedras da maioria da cidade. As pessoas dentro das construções à volta deles, pareciam estar saindo apressadas. Foi quando começou a ouvir barulhos por todos os cantos da cidade, como se várias casas estivessem desmoronando, e poderes se chocando.
“A guarda da cidade já não devia estar aqui?”
“Acho que a bruxa tem amigos…”
Um homem de armadura de couro negra, com algumas partes prateadas, estava andando no sentido contrário da multidão, que corria desenfreada. Suas asas, parecidas com a de um celestial, só que negras, chamavam bastante atenção, mas humanos normais não podiam vê-las. Uma espada fina e longa, bastante chamativa, estava pendurada em sua cintura. Ao lado dele, havia uma mulher loira de olhos azuis. Um capuz cinza estava cobrindo a cabeça, mas pelo rosto fino, e beleza acima do normal, parecia uma elfa.
— Por que demoraram tanto? — gritou a mulher de preto. A voz dela era extremamente esganiçada.
— Tem muitos guardas na parte central da cidade, demorou até nos livrarmos de todos. — disse a mulher.
— Façam valer o que lhes foi oferecido, seus imbecis! — gritou a bruxa.
O homem de asas negras fez uma cara horrível para ela.
— Não se importe, ela está no meio de um ataque. Bruxas são difíceis de conversar — disse a elfa, colocando a mão no ombro dele. Pareciam próximos.
Arian engoliu a seco, quando finalmente lembrou de uma descrição que batia com eles.
Armitazen, uma elfa com mais de dez mil anos, e Valadar, o aprendiz dela, um demônio que, assim como Kadia, podia ler mentes e tinha uma força descomunal . Chamavam a raça dele de anjos da morte, pela semelhança com os celestiais, mas com asas negras em vez de brancas. Ambos eram classe SS do norte.
A elfa correu até eles. Arian se colocou na frente de Lara, atacando a mulher com sua espada de prata, mas ela desviou com facilidade, como se tivesse previsto o movimento.
— Patético… — disse ela, olhando decepcionada para Arian. — Pelo que me disseram, você deveria ser um desafio respeitável — ela tirou sua espada e redirecionou outro golpe — Será que não está lutando a sério por eu ser uma elfa? Vou me sentir ofendida — a mulher avançou para cima dele.
Arian desviou do primeiro golpe, mas o segundo e o terceiro fizeram cortes precisos em seu abdômen e parte do braço que a armadura não cobria. A mulher parecia não estar nem se esforçando.
“É uma elfa milenar, não podemos encarar ela na ofensiva! Recua!”
Arian tentou agarrar o braço de Lara e saltar para trás, mas antes que conseguisse, o homem com asas negras já estava ao seu lado. O sujeito colocou sua mão para frente. Quando a palma tocou o corpo de Arian, ele foi arremessado para trás até bater de costas em uma estátua de três metros de Alizen, que rachou. Ele caiu para frente e cuspiu sangue. Sua espada de prata havia quebrado, agora só restavam a espada normal, nas costas, e sua espada espiritual, na cintura.
O homem saltou até ele colocando a mão sobre sua cabeça, mas antes que pudesse executar o que tinha em mente, foi arremessado vários metros para trás. Era Kadia, estava usando toda sua força, como dava para notar pelos olhos brilhando. Valadar só não foi cortado ao meio porque se defendeu a tempo, usando seu bracelete, mas parecia ter quebrado o braço com o impacto da espada da demônio.
— Ao menos agora temos um desafio. Espancar esse guardião patético não valeria o nosso pagamento — disse a elfa, confiante, enquanto caminhava até o homem de asas negras. Ela colocou a mão no braço dele e recitou algum encantamento. Uma luz dourada apareceu.
— Não precisa se desgastar com isso, eu me curo sozinho — Valadar parecia irritado. A mulher riu e se afastou. Embora ainda saísse sangue do ferimento que Kadia fez, ele já parecia poder mexer o braço.
Arian ainda estava meio zonzo, mas pôde ver Marko chegando, carregando Irene e Joanne, uma em cada braço.
— O reforço chegou! — gritou Marko.
Joanne e Irene correram até Lara, e passaram a ela o objeto negro que estavam segurando. As duas pareceram extremamente aliviadas após fazer isso.
— Como nos encontraram tão rápido? — perguntou Lara, aparentando cansaço.
— Nost tem várias utilidades. Ele está desde ontem rondando a cidade procurando vocês — Kadia apontou para seu pássaro negro, voando sobre eles, enquanto ajudava Arian a se levantar. — Capturamos um classe S que tentou roubar a caixa negra há poucos dias. Peguei um bando de informações úteis na cabeça dele. Eles enviaram cinco SS atrás de nós. Eles chegaram na cidade hoje de manhã, e tinham ordens de levar Lara e a caixa preta para o Norte. Você parece ser do interesse deles também, mas é um objetivo secundário.
“Cinco SS? Estamos ferrados…”
— Você está bem? — perguntou Kadia, ao notar que Arian ainda estava tonto.
— É como se tivesse levado um soco seu em cheio, mas ele nem me tocou…
— Então você não deve estar muito bem. — disse ela, que ainda não parecia totalmente confortável falando com ele, mas estava se esforçando para voltar a interagir como fazia antes do evento com Malak.
“Ela não parece mais brava… ”
“Essa é sua preocupação?! A gente está para morrer nas mãos de dois SS, e você só não quer ser odiado por mais alguém?”
— Onde estão os outros? — perguntou a bruxa, falando com Armitazen. Ela e seu aprendiz se colocaram do lado da mulher de preto, esperando a iniciativa dos adversários. Cada um dos grupos estava em um lado da praça.
— Kalimar e Herz foram acabar com a central da guarda e bloquear as duas maiores guilds de Amira. Mas Raziel já devia estar aqui. Ele disse que iria eliminar a guarda da entrada Sul, e depois se juntaria a nós. Deve ter acontecido algum imprevisto… — Armitazen estava pensativa, olhando para o lado Sul da cidade. — Mas se eles não vêm, eu mesmo chamo reforços.
A elfa fechou os olhos e começou a recitar encantamentos em uma velocidade absurda. Um portal se abriu ao seu lado, de onde saiu um gigante, com a pele feita de algo que lembravam pedras. Devia ter uns 8 metros de altura, e quando ele pisou no chão, a terra toda à volta do local tremeu.
— Eu fico com o guardião, você com os outros — disse Armitazen. Valadar acenou com a cabeça, concordando, e entrou em posição ofensiva.
— Marko, se transforme logo, ou vai cair desmaiado no primeiro golpe do Valadar — disse Arian, olhando para os adversários, enquanto desembainhava sua espada normal com a mão esquerda e a espiritual com a direita.
Seu amigo não parecia muito confortável com a proposta, mas acabou cedendo.
— Senhoras, por favor não se assustem com o que vão ver a seguir… Só vou ficar mais fofinho.
Marko fechou os olhos, parecendo estar se concentrando. Seu corpo ficou todo peludo, seus olhos vermelhos, e ele aumentou para perto de dois metros e meio de altura. Sua armadura não quebrou, se adaptando ao novo tamanho e largura do corpo. Era claramente feita com aquela transformação em mente. Sua aparência lembrava um urso humanoide, uma das variedades raras de licans. Ele tirou o machado das costas e entrou em posição ofensiva.
— Odeio essa forma, meu olfato está pegando tudo a uma distância enorme. Tem mais um bando desses mercenários que você e Lara mataram, se escondendo por aqui. Devem estar esperando a ordem da mulher de preto — disse Marko, olhando para dois corpos no chão, um morto por Lara e outro nocauteado por Arian. A voz de Marko estava estranha, e as palavras não muito bem pronunciadas, mas era possível entender.
— Um licantropo urso? É mais forte do que os lobos, mas vai precisar de bem mais que isso para parar Valadar. — Armitazen falou como se estivesse se gabando.
— Era isso que estavam com medo antes? Ele parece inofensivo. — Irene encostou a mão no braço de Marko, que parecia aliviado com a aproximação dela.
— Não era isso que eu vi nas memórias do Arian… — Kadia estava olhando perplexa para Marko.
Marko rosnou na direção de Arian.
— Ela estava me tocando, não fiz de propósito. Mas esperamos que ele não precise usar aquilo… Irene, Lara e Joanne acabem com a bruxa e os mercenários dela que estão nos becos próximos. Cadê a Zek e o Jon?
— Está ocorrendo um ataque perto da sua guild, eles foram ajudar os civis. E eu sou a líder do grupo Arian, pare de me dar ordens.
— Dois anos de guild, seis meses no exército e dois anos e meio como guardião… Eu com certeza entendo mais de combate do que você.
Joanne não o contrariou, apenas se posicionou do lado de Lara com sua espada em punho.
— E cadê o Dorian?
— Disse que vai ficar nos ajudando do local mais alto que consiga encontrar perto daqui. Mas não entendi o que ele quis dizer.
— Certo… Kadia, leia a mente do Marko e se posicione adequadamente, ele é muito forte e resistente, mas a agilidade nessa forma é baixa. E não deixe a mão do Valadar chegar perto do seu corpo.
— Se eu ganhar dele viro uma SS? — questionou a demônio, confiante.
— Espero que tenha mais alguma carta na manga para estar com essa confiança toda.
— São dois contra um, eu e Kadia vamos acabar com ele rápido e depois te ajudamos. — Marko parecia ainda mais confiante que Kadia.
— Não acho que vai ser tão fácil…
Os dois lados se preparam para avançar, quando Atlas apareceu no meio da praça, saltando de cima de uma construção próxima.
— Esperem! Arian, você fica onde está.
Arian o olhou com ceticismo. Ele então se aproximou do guardião, e tirou um pequeno cristal transparente do bolso.
— Estou com a garota da Arena e a que Malak pegou, Nya e Ane eram os nomes, eu acho. Se você não ficar aí parado, ambas vão morrer.
Arian arregalou os olhos, e saiu de sua posição ofensiva.
— Está blefando…
— Sabe muito bem que não posso mentir.
Atlas jogou o cristal transparente de sua mão para Arian. Ao olhar dentro dele, Arian viu a imagem de Ane e Nya, ambas em um quarto escuro, com os braços amarrados, uma do lado da outra.
— Raziel interceptou a sua escolta, e depois pegou Ane. Pedi a ele para não matar Siren, mas não creio que ele vai poder se mexer por alguns meses.
Arian prensou os pés no chão com força e olhou para Atlas com ódio. Sua mão apertava com força o cabo da espada.
“Se acalme, idiota!”
— Sei que está nervoso. Mas também sei que é racional. Se nos atacar elas morrem. Ao invés disso, vou te dar a chance de salvá-las. — Atlas jogou para ele um pedaço de papel amassado. Arian abriu. Era um mapa de Amira. — Vá logo, você não tem muito tempo. — Ele se virou para a bruxa — E Jane, você fica aí, antes que destrua partes da cidade sem necessidade.
Ao notar que Arian ainda estava lá, decidindo o que fazer, Atlas se dirigiu novamente a ele.
— E Arian, se ainda está em dúvida por causa do que elas sabem do seu passado… Eu encontrei o homem que o treinou, ele é meu professor agora, foi assim que melhorei tão rápido. Ele sabe muito mais sobre você do que essas sacerdotisas. Se vier conosco, ele conta tudo que você quiser saber.
Ao dizer isso, Atlas avançou sobre o grupo de Arian, seguido por Armitazen e Valadar. Com o novo adversário, e a bruxa na retaguarda, Joanne e os outros pareciam meio perdidos sobre quem iriam atacar.
— Arian! — gritou Marko, furioso, avançando sobre Valadar.
Arian ficou lá parado, olhando para o mapa e o cristal com a imagem de Nya e Ane, ao mesmo tempo que observava Lara, desviando dos golpes de Atlas, com Joanne a auxiliando, e Irene atirando flechas mais atrás. Marko estava ocupado lutando contra Valadar, junto de Kadia. Ele estava aguentando a força dos dois sem grandes problemas, e a todo momento arremessava um deles com, seja lá o que fosse, aquilo que soltava com a mão.
Armitazen observou a situação para ter certeza que Arian não iria avançar.
— Isso vai ser mais fácil do que pensei — disse a elfa, correndo até Lara.
“O que eu faço?”
“A escolha é sua, não vou interferir, ou julgar.”
Arian lembrou de Nya. Era chata, mas uma ótima pessoa. E Ane, que era tão gentil como sua mãe. Atlas não podia mentir devido a uma maldição, então a parte de ter encontrado o homem que o treinou antes de perder a memória, era verdade também. Ele tinha mesmo uma escolha?
Foi quando olhou para <E>, que estava com os olhos fixados em Lara, parecendo preocupada. Lara desviou dos primeiros golpes, mas estava prestes a ser atingida pelo próximo movimento de Armitazen.
Nesse momento, Arian lembrou do que ela disse a ele na floresta de Ark. Seu corpo então se moveu quase que sozinho.
Arian bloqueou o golpe de Armitazen com sua espada bastarda, e tentou acertar o pescoço de Atlas, que estava atacando Joanne, com a outra. O adversário desviou e pulou para trás, assim como Armitazen.
— Está louco? — disse Atlas.
Arian parecia surpreso com o que fez. Mas logo depois deu um leve sorriso, como se constatasse alguma coisa.
— Não, acho que estou pensando direito pela primeira vez em muito tempo… Se eu sempre escolho a mesma coisa, nunca foi uma escolha — disse ele, enquanto lágrimas caíam lentamente de seus olhos. Depois se virou para Lara. — Como alguém importante me disse, se eu não tentar algo diferente às vezes, nunca vou ter certeza se realmente fiz a escolha menos dolorosa.
Lara, pela primeira vez, perdeu sua expressão séria, e parecia emocionada olhando para ele.
— Matem-nas! — disse a mulher de preto, com um cristal na mão.
— Jane, não! — Atlas foi correndo até ela e pegou o cristal de sua mão, mas ela já o tinha quebrado. A mulher estava sorrindo de forma cruel, enquanto o ex-companheiro de guild de Arian a olhava com pena. Ele então se virou e deu um salto, que o levou para cima de uma das construções próximas, e então começou a correr. De acordo com o mapa que deu a Arian, era óbvio que estava indo para o local onde as garotas estavam presas.
— Volte aqui, Atlas! — gritou a bruxa, com um tom de desespero. Depois, furiosa, começou a arranhar o próprio rosto com as unhas. Seu rosto ficou cheio de sangue.
“Boa estratégia ao usar a piedade do Atlas”.
“Não pensei nisso”.
“Então você…”.
Arian olhou para o cristal em sua mão, e viu as garotas tossindo, enquanto o fogo se espalhava pelo local onde elas estavam. Ele fechou a mão com força e quebrou o cristal. Quer Atlas conseguisse ajudá-las ou não, ele já tinha feito sua escolha, mesmo que uma parte dele quisesse desesperadamente correr até as duas meio-elfas.
— Isso não muda nada, acabem logo com eles! — gritou a bruxa.
— Voltem ao plano inicial! — disse Arian, olhando para Joanne e Lara.
Arian avançou contra Armitazen, e Lara, ao lado de Joanne, contra a bruxa e alguns mercenários à volta da mesma. Kadia e Marko, já a vários metros dele, ainda lutavam contra Valadar, que parecia estar ganhando.
Arian mudou de estratégia e entrou na defensiva contra a elfa, o que parecia ter surtido efeito. A arma dela era de alta qualidade, puro zodium, mas não podia passar sua armadura, apenas fissurá-la de leve . Bastava então, Arian tomar cuidado com seu pescoço e abdômen, e esperar uma abertura.
— Acha mesmo que isso vai funcionar? — Armitazen parecia ter entendido perfeitamente sua intenção. — Não vou te testar mais garoto, já me decepcionou o bastante… — conforme falava isso, o gigante de pedra, vários metros atrás deles, avançou para cima de Arian, que pulou para o lado. Quando ele se levantou, sentiu uma pontada de dor nas costas e instintivamente pulou para frente.
Ao olhar para trás, viu Malak, ou o que já foi ele. Agora era um amaldiçoado, com os olhos verdes, uma expressão sem vida, e o corpo negro apodrecendo. Em suas mãos, uma espada larga de alta qualidade, provavelmente dada pela elfa.
— Meu forte não é luta com espadas, é invocação. Consegue continuar na defensiva contra nós três? O seu amigo ali foi um achado muito interessante. Atlas me falou dele e, felizmente, consegui revivê-lo como amaldiçoado, depois de algum trabalho costurando o pescoço de volta. Dá próxima vez, recomendo cortar em mais pedaços… — disse a elfa, rindo. — Agora, vamos acabar com isso!
Suas costas doíam, não sabia o que Malak tinha perfurado quando o cortou, mas afetou algum órgão. Arian respirou fundo e ficou de pé. Tinha alguma chance contra aquilo? Já era difícil enfrentar Armitazen sozinha, com ela coordenando seus dois fantoches seria ainda pior.
“Precisamos de uma nova estratégia”
O ogro de pedra avançou sobre Arian, que desviou, e depois bloqueou o golpe de Malak. A espada de Armitazen pegou de raspão em seu rosto, enquanto Arian usava sua segunda espada para desviar um novo golpe de Malak. Toda vez que os dois se afastavam um pouco, o gigante o atacava, a coordenação era perfeita. Arian continuou desviando, conforme seu corpo ficava mais e mais ferido por movimentos calculados da elfa, sempre mirando seus pontos desprotegidos.
Em determinado momento, finalmente conseguiu uma abertura para atacar Malak. Infelizmente, tinha esquecido da dureza da pele da criatura, que continuava igual, mesmo se tornando um amaldiçoado. Arian se desesperou quando a espada normal, em sua mão esquerda quebrou, ao usá-la contra a criatura. Malak contra-atacou, e ele teve que se defender com seu bracelete, enquanto o outro braço, com a espada bastarda, bloqueava a espada de Armitazen.
— Adeus… — disse a elfa, com um ar de tédio.
Quando Arian bloqueou os dois, o meio do corpo ficou completamente desprotegido, e veio um chute do gigante, que o acertou em cheio. Ele foi arremessado para trás, só parando quando acertou uma estátua pequena, que ficou em pedaços. Ele tentou se levantar, mas estava tonto. Alguns ossos deviam estar quebrados, e a dor em suas costas, devido ao ferimento de Malak, estava aumentando. Sangue escorria lentamente do ferimento até suas pernas.
— Patético… Isso é o nível de um classe S. Me preparei para um SS à toa pelo jeito. Foi assim que deixou Emily morrer, Arian? Atlas me contou tudo.
Arian a olhou com ódio, e depois observou a situação a sua volta. Lara parecia cansada, com ela e Joanne tentando matar a bruxa e os mercenários a sua volta. A espada espiritual de Lara estava mantendo a luta balanceada, foi sorte ela não ter usado aquela magia absurda contra os goblins, ou o objeto teria perdido seus poderes temporariamente, e elas já teriam sido derrotadas. Como Lara estava usando parte de sua energia espiritual para conter o objeto amaldiçoado, bloquear as magias da bruxa ficou mais complicado, com ela frequentemente sendo jogada para trás, e ganhando vários cortes pelo corpo, gerados pelos resquícios da magia negra. Joanne tentou bloquear a energia da bruxa uma vez, mas quase morreu no processo, com Lara tendo que correr até ela para barrar a maldição que a mulher tinha lançado em sua líder. Depois disso elas começaram a se coordenar para barrar as magias da adversária ao mesmo tempo, mas ainda pareciam estar perdendo. Marko e Kadia estavam bastante machucados, e embora Valadar estivesse ferido também, ainda estava na vantagem contra eles.
Arian então tomou sua decisão. Se virou para o gigante de pedra de Armitazen, vindo em sua direção, serrou os dentes e abaixou os braços, esperando para receber o ataque.
“Não faça isso, seu idiota!”
Arian não desviou, recebeu um chute em cheio, e foi lançado para trás a toda velocidade, arrebentando parte da parede de concreto de uma construção com as costas. Mesmo com a armadura o protegendo, vários ossos haviam se quebrado.
A criatura não parou, e seguiu para cima de Arian, o lançando para dentro da construção. O guardião, no entanto, estava caído em meio aos destroços, rindo.
“Por que está rindo? Deve ter quebrado metade dos ossos do corpo”.
“Não importa… A luta vai acabar agora”.
— Diga adeus, sétimo guardião de Distany, você foi uma decepção… — falou Armitazen.
A criatura desceu um soco sobre ele com a intenção de esmagá-lo, mas algo inesperado aconteceu. Arian se levantou e direcionou um soco contra o punho do gigante, que vinha com força em sua direção. O impacto do soco dele contra o da criatura gerou o som de um trovão, que quebrou as janelas de todas as construções da área apenas com a onda de choque. A criatura foi arremessada para trás até bater em um prédio do outro lado da praça, que desmoronou em cima dela. Arian saiu andando em meio aos destroços do prédio, com uma energia azul o cercando. A cor de seus olhos tinha mudado para um tom azulado, energia fluía dentro deles.
— Adeus… — disse Arian, olhando para Armitazen.
Próximo: Capítulo 40 – O Sétimo Guardião
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