B: The Beginning | O retalho de gêneros da Netflix

A mistura de gêneros dentro da literatura ou cinema não é uma coisa incomum, mas pode se tornar um banho de água fria se mal executado e nisso, B: The Beginning consegue ser um retalho até que razoavelmente bem costurado de elementos de romance policial e sci-fi.

O roteiro não é desconexo e apesar de ainda ficar algumas pontas soltas e pontos a serem melhor esclarecidos em temporadas futuras, em sua totalidade é até que bem consiso.

Sendo assim, ao ver o anime o caro leitor deve ter em mente que não é uma história com todas as bordas se fechando perfeitamente e isto não é exatamente um defeito da obra, mas uma característica da própria, já que como o mistério move sua trama, é necessário deixar algumas questões sem respostas, principalmente se o pretendido é que a produção tenha continuações.

Contudo,  obras de sci-fi são um pouco chatinhas, já que é necessário ter um maior cuidado para que as respostas das questões levantadas sejam coerentes e os eventos descritos não criem suspensão de descrença, por exemplo, quando envolvem algo que seria impossível de ser executado da forma como foi apresentada.

Mas, positivamente, o problema da trama é todo fechado e as respostas para as perguntas centrais da primeira temporada são respondidas de forma progressiva de acordo com o desenrolar dos acontecimentos retratados.

Agora eu quero saber de onde diabos vieram essas criaturas, que Terra não deve ser!!!

No entanto, estes furos no meio do roteiro podem se apresentar como algo fatal se não obterem explicações mais bem construídas na segunda temporada, já que algumas coisas são expostas de modo ainda muito superficial para te convencer completamente.

O que nos leva a uma característica que apreciei, mas que também me causou desconforto em determinados momentos que eu queria mais informações: A trama é toda concebida na fórmula “é melhor mostrar do que ficar enrolando”, ou seja, os episódios são bem diretos e sem narração arrastada  .

Então esqueça alguma introdução ao universo ou algo do tipo, principalmente nos episódios iniciais, já que a escrita deste roteiro se baseia em jogar o espectador diretamente no fogo cruzado para depois ir te dando respostas picadas.

O que com certeza causa um pouco de confusão ao público, mas agrada por estar atrelado a uma ação que é sempre presente. Então, reclamar que este anime é paradão é inimaginável já que todo o episódio exibe alguma ocorrência que a torna dinâmica.

Outra característica bem positiva de BtB é o fato da animação ser composta por diversas cenas bem animadas,  consistentes e principalmente, bem dirigidas. E sinceramente, o que eleva bastante a imersão na obra não é o roteiro em si, que é bem mediano, mas a composição dos atos que foram muito bem executadas pela direção.

Quem gosta de boa animação, não vai reclamar desse anime!!!

O episódio final não teria metade de sua imersão se não fossem os diálogos bem executados e na entonação correta, os ângulos usados, as sobreposições realizadas em um bom timing e de timing esta direção entende porque o show é composto por vários ganchos, por uma trilha sonora utilizada no exato ponto que deveria ser introduzida, etc.

Os diálogos serem mais limpos, sem rodeios e bem escrito na maior parte do show também contribuíram bastante para que o público acabasse preso a trama, já que um texto muito longo entupido de informações gera tédio na maioria dos casos.

E aqui temos o último ponto positivo da obra que é a trilha sonora. As OSTs são todas instrumentais e bem compostas, cumprindo com o seu papel e variando bastante durante toda a extensão do anime, não sendo algo muito enjoativo, além da ending possuir uma das melhores OSTs cantadas da temporada, com uma pegada de rock clássico.

Porém, nem tudo são flores para B: The Beginning, já que este anime, como citado anteriormente, carece de um roteiro melhor escrito e de impacto, o que a trama não tem, principalmente graças a uma coisa essencial a seus personagens.

E que aspecto é necessário para que o público se importem mais com os personagens de uma história? A resposta obvia é carisma. Nenhum personagem do elenco consegue te conquistar, nem aqueles que foram criados para ter uma personalidade mais extrovertida, logo teoricamente serem mais fáceis de atrair o público por causa da simpatia.

Em pleno 2018 e fazem personagem caricatos glutões, assim não dá produção

Por quê? Por que a carisma não está ligada a personalidade do personagem em si, mas a capacidade dele de fascinar e criar empatia com o público, que também é outro ponto que B: The Beginning falha maravilhosamente bem, nenhum personagem tem tempo de tela suficiente pra te convencer, nem os personagens principais.

O enredo ficar transitando de um personagem principal pra outro, acaba criando uma quebra no desenvolvimento dos mesmos e consequentemente prejudicando o público a criar laços com eles, ou seja, se um personagem morrer, você não se importa, o que acaba com as cenas de impacto que deveriam ser chaves nessa obra.

Outro ponto negativo é o desenvolvimento do elenco que quase não existe, os personagens são apresentados pré-construídos, então você não tem aquele progresso de evolução e formação para aprender a conhecê-los profundamente.

Mas observem que um personagem já construído ou quase completamente construído não é um problema em si, mas o roteiro não apresentar eventos que façam este personagem refletir ou mostrem toda a psique e interior dele, vai fazer ele ser algo apenas superficial ( colocar flashback ajuda, mas não faz milagre).

Outro elemento que achei negativo é os antagonistas serem caricatos, os caras são psicopatas, mas não precisam ser trash e o visual peculiar dado a eles não ajuda nem um pouco o público levar eles bem a sério. Só parecem um bando de malucos e por mais que o roteiro explique o comportamento louco dos criminosos, tem como ser biruta sem parecer bizarro.

Apenas um dos antagonistas principais consegue se salvar mais ou menos pelas razões apresentadas para ele no episódio 12 e o pior é que este nem era exposto no meio dos eventos, mas um elemento que ficava nas sombras.

Campanha: Por psicopatas menos trash, viva vilões bons

E por último, a característica que mais mata o anime e não faz ele ser uma obra prima, o fato que mesmo sendo uma obra de mistério,  o roteiro com conclusões muito óbvias e carecia de um pouco mais de tempo para ser pensado e escrito.

Entendam, a ideia de ter duas jornadas contadas, uma com aspectos mais de romance policial e outra de sci-fi é boa, mas esta obra é focada em mistério, então eles deveriam ser um pouco mais complexos para prender o público, mas é o contrario, é muito simples.

Pior que como todo o drama foi escrito, eles criam  a sensação de que tem algo acontecendo ali que é obscuro, uma conspiração gigantesca que pode causar um caos sem fim, mas isto é esquecido em uma trama bem rasa para desenvolver apenas um psicopata.

Tudo bem que pela cena pós-créditos eles vão continuar a trabalhar com isto em uma possível segunda temporada, mas se continuar com a escrita muito simples, infelizmente o que vai continuar chamando a atenção na obra vai ser apenas a direção.

Portando, B: The Beginning tem boas ideias e uma direção que faz inveja a muitos animes, mas acaba sendo apenas um passatempo e não marcar o público como tinha potencial para fazer.

Nota 

Direção –  8/10

Animação –  8/10

Roteiro – 6/10

Trilha Sonora – 8/10

Entretenimento – 7/10

[yasr_overall_rating]

Nota do autor: Netflix, não coloque thumbs que deem tanto spoiler, grata.

Extra: 

Essa ending merece ser seriamente apreciada em sua totalidade, uma pena que animação dela seja tão sem inspiração

https://www.youtube.com/watch?v=DUf60-JKRnE

Sirlene Moraes

Apenas uma amante da cultura japonesa e apreciadora de uma boa xícara de café e livros.