Dragon Ball Super – O Bom e o Ruim | Review
Eu gostava muito de Dragon Ball Z na infância, e especifico bem, o “Z”, o primeiro eu nunca gostei muito, “bobo demais” era o que me vinha a mente assistindo. Eu era novo na época, mas depois de ver Cavaleiros do Zodíaco com sangue jorrando para todo lado, e da mesma época, Dragon Ball me parecia só um show de comédia bobinho. Aí veio o Z, que realmente me cativou. Aumentaram o investimento nas lutas, as situações eram mais sérias, e as piadas, mesmo que ainda existissem, foram muito reduzidas em comparação a saga anterior.
Sei que ambas as séries adaptam o mangá (com toneladas de filler no meio), mas a divisão entre o primeiro e o Z tem uma mudança de tom e foco para mim, quer ela seja proposital ou não.
Eram lembranças felizes… E aí me anunciaram Dragon Ball Super. Meu primeiro pensamento foi “Pra que? A série encerrou bem… Mas ok, vamos ver o que sai, estou curioso…”. E então me veio aquele filme, que é 90% piadinha e uma luta que não empolga em nada. “O que fizeram com Dragon Ball?!”, foi o que pensei. Era como ver o clima do primeiro Dragon Ball tentando se misturar com as lutas do segundo, e não funcionou para mim.
Depois veio o segundo filme, que eu nem vi, tamanha minha decepção com o primeiro. Depois saiu a série de TV, que eu assisti uns episódios e larguei, porque estava vendo apenas uma versão mais lenta do que já tinha visto no filme, e com o mesmo clima leve.
Passado um bom tempo, veio a saga Trunks, que me interessou. Reduziram um pouco a comédia e aumentaram a urgência. No fim dele achei a ideia boa, mas a execução e finalização péssima. Dentre outros problemas o Trunks ganha uns power ups malucos e vence do cara que precisou de Goku e Vegeta fundidos para aguentar… Só fiz uma cara de decepção e desisti de Dragon Ball Super de novo.
Chegado o arco do torneio fui dar uma olhada para ver como as coisas estavam. O episódio 95 foi tão bonito que fiz até um vídeo para falar do design super consistente e detalhado dele (cheio de efeitos de sombra no design). O feito não se repetiu, mas para minha surpresam veio dois episódios que eu nunca esperaria de Super: me entregaram lutas que achei mais impressionantes do que as que via em DBZ.
A finalização da luta contra Kefla é cheio de coreografias de agilidade e uma forma de usar o Kamehameha diferenciada que me fez até perdoar algumas doideiras do roteiro.
Roteiro aliás, é algo para que Dragon Ball Super nunca ligou muito desde que começou (estou falando do anime, o versão mangá tenta fazer mais sentido, inclusive mudando coisas que acontecem no anime para isso). O Z tem seus problemas, mas em geral é consistente, já o Super, por ter pouco tempo para revisão ou sei lá que motivo, tem furos para todo lado, principalmente com a questão de nível de poder e desgaste de energia, chegou um ponto que não valia a pena nem prestar mais atenção nisso, só servia para você ficar nervoso.
O tempo do torneio pode ser uma piada interna com os 5 minutos infinitos da batalha contra o Freeza, mas só deixa mais bizarra a coisa toda ao notar que o Goku ficava acabado e se recuperava em questão de minutos, e em 50 minutos entrou em Ultra Instict 3x, ficou acabado, e se recuperou. Uma recuperação que deveria levar dias acontecia em 5 minutos, sabe-se lá como.
E no final, depois de ter usado a técnica 3x seguidas e ainda conseguido a forma completa, os roteiristas me colocam na cara dura que ele não consegue fazer mais… Eu li aquela frase do Goku como uma conversa entre roteiristas:
Roteirista 1: “Ele fica overpower demais com esse Ultra Instict, vai acabar com a rivalidade com o Vegeta e o próximo inimigo que parecer no filme não vai durar 10 minutos… O que a gente faz?”
Roteirista 2: “Vamos tirar esse bagulho dele! Quer dizer… Tirar não, vai que o diretor do filme quer usar, só temos que bloquear ele de usar por enquanto…”
Roteirista 1: “Mas como, qual a explicação?”
Roteirista 2: “Sei lá, não temos tempo de elaborar nada complicado, coloca só que ele não consegue mais e pronto, se precisar a gente inventa uma desculpa melhor para alguém dizer durante o filme que sai em Dezembro…”
Roteirista 1: “Ok!”
Não vou ficar catando migalha com erros aqui, mas se fosse destacar um dos mais bizarros, seria o Vegeta, o cara que estava sem energia, não podendo nem se transformar em Super Sayajin, e me dá energia para o Goku, que nem consegue se mexer. Até aí vá lá, mas o Goku, com a energia do Vegeta, que nem SSJ1 pode virar de tão pouca que tinha, me volta em Super Sayajin Blue, que segundo o roteiro especificou, é a transformação que mais gasta e exige energia… Eu dei risada nessa parte, e me conformei que o roteirista não está dando a mínima para erros ou lógica de níveis de poder e energia, porque o público alvo não dá a mínima para isso, ele só quer se empolgar, e é isso que eles tentaram ali.
O Ultra Instinct é a prova desse desleixo em explicações e lógica. A técnica nunca é realmente explicada. Diziam que ela permitia a previsão de movimentos, mas ela aumenta a força do Goku muito além do Super Sayajin Blue também, e ao que parece sem gastar nada, já que o Goku entrou em Ultra Instict várias vezes zerado de energia. Quando Goku entra nele, não importa que esteja em zero de energia, ele parece que está em 100% (na luta final com o Jiren, por exemplo). E o quanto a transformação dura vai depender de quanto o roteirista quer que a luta dure. Com a Kefla a luta era mais rápida, então a transformação acabou rápido. Já contra o Jiren precisava durar mais, então esperaram para só tirar antes do golpe final, de forma a prolongar a luta.
Como deu para notar, se você começa a analisar Super a fundo, ele não funciona. Mas quem faz isso? Só o pessoal mais crítico, que são poucos. A maioria quer se divertir apenas, e um episódio bom e um ruim vão ser separados pelo seu entretenimento e impacto, lógica fica em segundo plano.
Falando assim pode parecer que eu detestei a série, mas na verdade eu gostei do final (quer dizer, em parte…). Ignorando os furos e clichês para todo lado (a luta final teve power ups, poder da amizade e poder oculto), ela conseguiu sua proposta, entreter, e entregou uma luta empolgante, bem animada, com alto investimento em coreografias, e com direito a homenagem a saga do Goku e Freeza no final.
Dragon Ball Super pode ter todos os defeitos do mundo, mas ele com certeza ainda conseguiu me empolgar em seu final, e me tirar um sorriso da cara (de forma dupla, por empolgação e rindo dos clichês pipocando para todo lado, o que é bem mais produtivo que ficar nervoso com eles… Demorei esse tempo todo para descobrir a forma certa de ver DBS). Mas de qualquer forma, o final me lembrou porque eu gostava dessa série.
Outra reflexão que DBS me causou foi o quão complexo precisa ser um Shounen de batalha. Dragon Ball é de um tempo onde não investiam em arcos complexos, vilões profundos, reflexões ou plot twists elaborados, mesmo arcos de drama eram raros. Nos anos 90, tanto Dragon Ball Z quanto Cavaleiros do Zodíaco se resumiam a “ficar mais forte e o próximo inimigo ser derrotado” (e “Salvar Athena” no caso de CDZ, todo arco era isso…), nada mais que isso.
Com a chegada dos anos 2000 e o sucesso de shounens “longos” tentando histórias mais elaboradas (exemplo: Naruto), que embora tropecem no roteiro, ao menos tem a justificativa de tentar sair do básico que CDZ e DB iniciaram, eu pensava que o modelo simples de Shounen apresentado em DB não funcionaria mais hoje em dia, já que os fãs estariam mais exigentes, iriam querer twists, desenvolvimentos, etc.
Mas está aí, Dragon Ball Super, com seu roteiro discutível, e com um sistema de arcos de próximo inimigo e treinos (o do Trunks do futuro é o mais elaborado que a série já tentou, de resto é o básico), fez bastante sucesso. Mas foi pela nostalgia da série antiga ou porque esse modelo realmente ainda funciona hoje em dia? Fica a questão.
Por fim, se você não é um fã exigente com roteiro, e até gosta do clima leve do primeiro Dragon Ball, pode até gostar do Super. Para mim foi uma experiência estranha que eu não gostei muito em geral, mas com certeza teve suas partes boas, como seu final empolgante, um modelo de lutas baseado em coreografias mais ágeis nunca explorado em DBZ, e tempo investido no Android 17, que virou um dos meus personagens favoritos, e o Freeza.
E você, o que gostou e o que odiou na série?