Bastard – Um confronto psicológico entre pai e filho

Sinopse: Jin Seon não é um estudante colegial normal. Ele é criado por seu pai solteiro Dongsoo Seon, o CEO de uma companhia influente, mas há um segredo medonho guardado entre pai e filho, Dongsoo é um serial-killer e ele é forçado a ser seu cúmplice para se manter vivo. Quando Kyun Yoon salva sua vida de um dos valentões da escola, vira alvo de seu pai, iniciando assim um jogo entre pai e filho no qual Jin tenta manter Kyun em segurança.

Bastard é um thriller roteirizado por Kim, Carnby  e desenhado por Hwang, Young-chan.  Apesar do seu foco principal ser uma narrativa psicológica misturando horror com drama, o manhwua faz uma boa mescla com o romance que suaviza as partes mais densas, tornando a história mais interessante e com momentos diversificados .

A história possui uma premissa simples,  mas que acaba envolvendo o leitor pelo desenvolvimento constante do protagonista que é imerso em situações adversas que lhe colocam constantemente em contato com seus demônios internos.

A arte também colabora bastante para transmitir este aspecto mais carregado da obra, possuindo uma coloração mais desbotada puxando para tons cinzas e marrons, além dos autores destacarem bastante as expressões mais fortes e tensas do protagonista, principalmente os olhares.

Sendo o relacionamento do protagonista com o seu pai o aspecto mais trabalhado na obra, principalmente em sua reta final. O que torna o thriller realmente uma disputa entre pai e filho que se estende por 93 capítulos, no qual Jin é aparentemente testado por Dongsoo .

A obra também deixa bastante nítido que tanto pai quanto filho apresentam características semelhantes, mas que se diferem em suas resoluções internas, que são bem destacadas nos trechos finais.

Dongsoo, como apresentado pela sinopse, é um sociopata. Ele vê o filho como uma extensão de si e possui sentimentos altamente possessivos em relação a ele, demonstrando claramente um “amor” distorcido por Jin.

Enquanto o protagonista  também herda muitos traços do pai, como sua frieza, malicia e natureza metódica, mas abomina as ações do mesmo, projetando a imagem de um demônio em sua figura paterna, um demônio do qual ele não pode escapar ou lutar.

Sendo Jin Seon o personagem que mais evolui ao longo da série, amadurecendo e passando de alguém mergulhado no medo, e controlado pelos fantasmas em sua mente, para uma pessoa que aceita a sua responsabilidade e está disposta a encarar as consequências de seus pecados acumulados.

E o romance? Ele é introduzido como uma peça para montar o quebra-cabeça que é Jin Seon. Já que Kyun além de exercer o papel de consciência do personagem, é aquele objeto colocado no enredo para ele confrontar o pai e lidar com as verdades que ele mesmo escondia sobre si.

Mas infelizmente nem tudo são flores, já que a Bastard também apresenta muitos clichês,  como Kyun ser a típica heroína criada para o protagonista a salvar. Tudo bem que a coitada era alvo de Doongsoo, mas era necessário também ser um imã para outros assassinos?

Além de apresentar outras características que você vai encontrar aos montes em dramas coreanos, como a personalidade alegre e positiva, a ingenuidade e o altruísmo .

E o que não me fez a odiar é apenas o desenvolvimento dado a ela em relação a sua família. Que também cai em outro clichê, dela ser de origem pobre, mas cria a razão dela alimentar esta personalidade.

Ela é mais positiva e alegre para não se afundar em um poço escuro, já que a vida sempre sorriu cinza para ela.

Acrescentando também o fato dos autores terem tido bom senso e não criarem um dramalhão no momento que a protagonista descobre que o namorado era cúmplice nos crimes do pai, mas toma uma postura compreensiva e o aceita com a bagagem completa.

Somado a isto, o protagonista também é bem decidido e apesar de ser  bastante inexperiente em se relacionar com outras pessoas, acaba entregando o que os aficionados por romance desejam, não hesitar em ser direto e revelar seus sentimentos para a protagonista.

Como outras características positivas, o manhwua toca em assuntos pesados relacionados principalmente ao bullying que um indivíduo pode sofrer por apresentar uma deficiência física ou característica que a torne vulnerável, como a estatura franzina, os problemas cardiovasculares e o olho de vidro de Jin.

Também sendo aludido com a temática o fato de uma pessoa poder desenvolver tendências agressivas ou intimidadoras para se blindar das pressões e traumas psicológicos em relação a quem o pai é ou o que o pai fez, como o caso de Many Kim, que não configura um valentão comum, mas um indivíduo mais complexo.

Além da relação dele com o protagonista também não se configurar apenas como o velho caso de inimigos que se tornaram amigos, mas algo bem mais convivente e contextualizado na obra.

O suspense e o mistério de Bastard também são bem medidos, com os autores sabendo desencadear bons clifhangers, momentos de tensão ou pequenas reviravoltas que acabam sendo funcionais para o entretenimento do leitor, mesmo quando alguns desfechos são meio que previsíveis.

O final também responde muitas questões levantadas pelo enredo e finaliza a obra de forma agradável e bastante conclusiva, apesar de você obviamente acabar desejando que tivessem ao menos acrescentado um fan-service com a vida futura do casal.

Mas como um todo a obra apresenta um roteiro com uma estrutura bem feitinha e desenvolvimento bem efetuado de seu elenco principal, principalmente de seu personagem central. Portanto, recomendo esta historia para pessoas que curtem suspense psicológico e um romance fechadinho.

Nota do autor: Tanto psicopatas quanto sociopatas são capazes de cometer crimes horríveis, mas é menos provável que um sociopata os cometa contra aqueles com quem há um vínculo.

[yasr_overall_rating]

#Extras