The Dragon Prince – Elfos, humanos e dragões | Review
Nota: Este review possui spoilers pontuais da obra. O trailer acima é da Season 2. Boa leitura!!!
Fugindo um pouco dos animes, e aproveitando minha liberdade antes dela ser podada, recentemente estava vendo algumas produções animadas da Netflix, em especial as de Guilherme Del Toro (que comentarei em outra oportunidade), quando me deparei com esta obra em questão que é roteirizada por um dos criadores da série Avatar.
Inclusive, é interessante observarmos que a história dessa animação foi dividida em livros referenciando os tipos de magias contidas naquele mundo, assim como a jornada de Ang e Korra foram pautadas em livros que remetem a algo dentro de seu universo.
Contudo, o que foi o real chamariz para eu avaliar a série, é que The Dragon Prince emprega uma animação em 3D com remodelagem sutil para o traço de anime, que consegue te entregar uma arte inicialmente um pouco estranha, mas que vai te deslumbrando.
As cores e as texturas são bem harmonizadas para chegar o mais próximo possível do que seria o ambiente, e os personagens no 2D e os background são praticamente uma mescla de 2D com 3D.
E a produção consegue se manter a maior parte do tempo descente, principalmente nas cenas de ação. Mas infelizmente, temos os velhos problemas em encontrar diversas cenas com movimentações muito robóticas, travadas e rígidas.
Sendo que o que realmente se destacou para mim na animação da série foi a direção de arte que te entrega cenários muito bonitos, com uma coloração e iluminação bem empregada. Até mesmo as criaturas em 3D sofrem uma modelagem e pintura bem feita (mesmo que eu ainda prefira que dragões sejam construídos em 2D).
Então se uma coisa se destaca bastante nesta animação é a trilha sonora, que foi bem composta, ouso dizer até épica em alguns momentos. Ela conseguiu ditar bem o ritmo e o tom da narração e, definitivamente, uma trilha sonora bem aplicada ressalta muito os sentimentos e emoções embutidas em determinados trechos de uma história.
A premissa da história também é interessante, já que te imerge em um mundo divido entre humanos e criaturas míticas (elfos e dragões) que possuem os seus próprios preconceitos direcionados uns ao outros, sendo o slogan do caminho que será trilhado pelos personagens: o destino é um livro que você mesmo escreve.
Com todos os eventos se iniciando na tentativa de assassinato do Rei Harrow, de Katolis, o maior dos cinco reinos humanos, pelos elfos da lua em represaria a morte de Trovão, o rei dos dragões, e a destruição do ovo de seu único herdeiro, o príncipe dragão.
Só que no desenrolar de toda a confusão, os dois príncipes humanos, Callun e Ezran descobrem, junto com uma elfa guerreira (que intentava matá-los), Rayla, que o ovo do príncipe dragão não havia sido destruído quando os humanos mataram o seu pai, fazendo assim uma aliança improvável para devolverem o ovo a rainha dragão em busca de conseguirem acabar com o ciclo vicioso de ódio entre as raças e restaurarem a paz.
Em sua primeira temporada (intitulada Lua) , somos apresentados de forma satisfatória a mitologia do universo e as problemáticas dos personagens , principalmente de Callum, Rayla, Ezran e Lord Viren, o antagonista principal.
Sendo interessante notar que mesmo Lord Viren se comportando como um vilão um tanto clichê, sendo o famoso antagonista sedento por poder e conhecimento acima de tudo e todos, ele não é tão simples.
O mago realmente aparentava amar e ser leal ao Rei Harrow, mas em prol do que considera o melhor para a humanidade e a sobrevivência de sua raça, intenta matar os príncipes, tomar o trono e atacar Xádia, a parte mágica do continente. Ou seja, ele praticamente quer destruir os elfos e dragões e se apropriar de sua magia e conhecimento.
Também devemos considerar que, apesar dos humanos terem aparentemente desenvolvido a magia sombria, quem criou a divisão no continente foram os seres mágicos ao expulsarem os humanos para a parte oeste, temendo o que o uso de tal poder pudesse causar.
Ou seja, eles consideraram todos os humanos como seres ruins e com potencial destrutivo, e que o melhor seria isolá-los de Xádia e deixá-los a mercê da magia que eles criaram.
Então não seria natural os seres humanos desenvolverem um certo receio, desejos, ambiciosos e etc, por Xádia? Até porque, o que supostamente lhes restou foi a magia sombria e Xádia é o Outro, o desconhecido, e para piorar aquelas entidades tão diferentes se “demonstram” hostis a eles.
E isto é bem expresso quando Ezran diz que tudo que eles sabiam sobre os elfos estava errado, aludindo que esta falta de contato entre as raças humanas e não-humanas criou certezas que são irreais e meia-verdades, apenas pensamentos e suposições em base do conflito e ódio que sentem um pelo outro.
A segunda temporada (intitulada Céu) adensa mais a trama, desenvolve um pouco dos personagens e as problemáticas esboçadas na primeira parte, complementando o que sabíamos sobre a magia negra , os humanos e os seres mágicos com o fato que humanos supostamente não nasciam com arcano, então a magia negra era como uma válvula de escape para contornar isto.
Em relação aos personagens, o trio principal consegue ser carismático, e a interação entre eles são divertidas, apesar de que esta obra sofre do mesmo mau de Avatar: exageros com o humor bobo, piadas sarcásticas e etc.
Não que eu odeie o humor das duas séries, mas a falta de moderação acaba cansando com o tempo, e saber dosar isto no enredo seria muito bom. O que não faz a coisa desandar tanto são as partes mais sérias e a boa química do elenco, se não seria um porre.
Agora adentrando nas particularidades, também gostei bastante da construção que é dada ao elenco. Callum, por exemplo, é um príncipe legitimado, mas não é filho do rei e consegue passar o desconforto de se sentir um peixe fora da água, as dificuldades de se encaixar na nobreza por não ser bom em nada do que tenta fazer, como cavalgar e lutar.
Contudo, fugindo ao clichê que se poderia gerar com isto, o relacionamento de Callum com o padrasto e o irmão é completamente estável, além do próprio rei denotar carinho e atenção ao garoto. E o crescimento e amadurecimento do jovem é progressivo, com o personagem superando seus medos e aflições pouco a pouco.
Além dele ser um protagonista que foge um pouco do comum, porque ele realmente não tem talento nenhum em combate e, sendo um mago, dá suporte a Rayla que é a guerreira de fato do grupo, dando esta pequena diferenciada na configuração do grupo ou time principal, o que, sinceramente, gosto de ver.
A Rayla também é uma personagem que me cativou desde a primeiro ato, porque diferente do que se esperaria do que seria um assassino e, principalmente de um elfo, ela tem bastante empatia com os humanos, mesmo que isto entre em conflito com seu treinamento como guerreira e seu senso de dever. Sendo interessante ver ela se abrindo com os garotos e mostrando o lado mais sensível de sua raça.
Como na maioria das obras de fantasia, apesar de altivos e orgulhosos, elfos tem uma grande ligação com a natureza e são bem sensíveis as formas de vida. E ela acabou conotando esta sensibilidade aos humanos também, mesmo que a maior parte de sua raça os veja, provavelmente, com arrogância e como seres inescrupulosos, violentos, etc.
Já o Ezran, apesar de aparecer inicialmente como uma espécie de alivio cômico com seu sapo de estimação, Isca, também apresenta um desenvolvimento importante dentro da trama, e provavelmente vai ter um grande destaque nas temporadas futuras.
E com as pequenas pinceladas da narrativa direcionadas a ele na segunda temporada que percebemos o quão grande o personagem pode se tornar, a exemplo, o garoto admite ser um medroso que estava fugindo das pessoas e de suas responsabilidades, mas que naquele momento ele precisava assumir sua posição como rei e crescer.
Contudo, é notável que, por possuírem apenas nove episódios em cada temporada, o roteiro acaba sendo acelerado demais e muitas situações, ou reflexões, que poderiam ser mais impactantes se trabalhadas de forma mais lenta, acabam saindo apenas como algo razoável ou superficiais.
Sinceramente, o mundo criado é interessante e vivido, mas seria mais rico e concreto se as coisas tivessem um progresso menos apressado, e as ideias centrais fossem melhor desenvolvidas, em suma, com o rush para atender o tempo, muitos diálogos, situações e etc, saem forçadas ou apenas jogadas no enredo.
A exemplo, faz uma semana que os personagens se conheceram e Rayla trata os príncipes como amigos, quando o mais lógico seria apenas tratá-los como aliados, ou seja, são companheiros que eu preciso proteger porque são importantes para eu conseguir a paz.
O laço de amizade deve ser engatado lentamente mediante o avanço da jornada e não inserido em diálogos expositivos, então se ela fosse se abrindo mais gradualmente para eles e os vendo no decorrer das temporadas como amigos seria algo bem mais palpável.
Ela também acaba, supostamente, desenvolvendo uma paixão pelo Callum e quase verbaliza isto, que poderia ser algo bem mais significativo com uma experiência mais intensa entre eles, em uma terceira ou quarta temporada, este indícios de sentimentos crescentes, e revelados em uma situação tensa, seria melhor do que expostos agora.
E olha que eu gosto muito da ideia de romance inter-racial , principalmente quando as duas raças se mostram bem hostis uma a outra, mas isto ganha mais forma se for se desenrolando com mais tato e sensibilidade no enredo, do que quase por passe de mágica.
Além disso, elfos são naturalmente bem mais fechados e reservados que os seres humanos, então por mais que Rayla seja sensivel e empática, ela dizer certas coisas ou demonstrar carinho pelos garoto deveria ser bem mais complicado.
Porém um ponto bastante positivo e notório, é que assim como Avatar a diversidade cultural e étnica na obra é presente, mesmo que ainda não tenha ganhado um destaque tão nítido como em seu antecessor. Além de termos personagens secundários como a General Amália ( e tia dos meninos) que é muda e fala através de língua de sinais.
E anseio muito que ela e Corvus (o guardião atual de Ezran) ganhem mais destaque na terceira parte, já que gostei bastante da concepção dada a eles e por serem personagens fortes, se bem explorados podem render mais brilho ao show.
Mas, sinceramente, para algo que eu vi apenas por curiosidade em relação a animação que é um tanto peculiar, The Dragon Prince se mostrou uma aventura divertida.
Com um bom potencial narrativo, um mundo riquíssimo ainda sendo construído e personagens que possuem capacidade para serem mais marcantes e envolventes. Torço para que a Netflix conceda um número maior de episódios para as próximas temporadas.
Nota do Autor
Direção – 8
Roteiro- 7
Trilha Sonora- 8
Animação- 7.5
Entretenimento- 7
Nota final: 7.5/10